Pausa (Pause)

7/12/2015 11:06:00 PM |

É estranho que quando vamos acompanhar filmes de festivais, não esperamos encontrar longas que sigam a linha mais tradicional, que passaria facilmente em um cinema comum com público até que razoável gostando do que é mostrado, e hoje poderia facilmente classificar o longa suíço "Pausa" nesse gênero de entretenimento, pois o romance é levinho, gostoso de acompanhar, a musicalidade agrada, afinal o indie/country tem uma sonoridade própria que envolve o público e capta completamente a essência do estilo que o filme trabalha, e principalmente temos bons atores colocando a interpretação para jogo de modo que assimilamos bem os personagens com tudo o que o roteiro desejava passar. Enfim, um filme muito gostoso de assistir, com uma história bacana e que torço para que apareça comercialmente por aqui, pois certamente recomendaria ele para diversas pessoas assistirem.

O filme nos mostra que o despreocupado compositor Sami fica chocado quando Julia, uma brilhante advogada com quem vive há quatro anos decide dar um tempo no relacionamento. Instruído por seu velho amigo Fernand, um músico country alcoólatra que vive numa clínica para idosos, Sami faz o impossível para provar a Julia que ela é a mulher de sua vida.

É interessante ver como o diretor trabalhou bem o roteiro de modo que ele não ficasse cansativo, mesmo trabalhando situações que costumeiramente já vimos diversas vezes, que é o famoso pedido de um tempo na relação, e de certa maneira muitos levariam isso somente para o sentimentalismo romanceado, mas não, Mathier Urfer abusou de diversas outras maneiras em sua estreia na direção de longas, para colocar o relacionamento entre amigos de muitos anos de vida, o relacionamento profissional dos músicos e até mesmo o relacionamento de colegas de trabalho até onde vai o rumo de uma conversa, e isso é legal de observar, pois geralmente esse estilo de filme costuma atacar somente um dos vértices, e desenvolvê-lo até o extremo, mas com boas pitadas em cada um, tivemos a liberdade para pensar e ainda curtir tudo que o filme desejava. Claro que ele abusou do estilo clássico de filmagens, sem forçar ângulos inovadores ou até mesmo criar uma perspectiva mais intimista para o seu longa, e isso talvez os que não estão acostumados com planos longos aonde a câmera opta por uma segurança nos diálogos dos atores, acabe cansando um pouco e não se envolvendo tanto com o que é passado, mas quem gosta de algo mais artístico, certamente vai acabar entrando na mesma vibe que quiseram trabalhar, e dessa forma conseguimos ver os protagonistas bem soltos para seguir com seus textos e interpretações.

Sobre a atuação, tivemos altos e baixos, pois faltou um pouco de firmeza do diretor para exigir mais em determinadas cenas, mas o resultado para um longa musical certamente foi bem encaixado pelo ponto de vista dos dois homens. Baptiste Gilliéron caiu bem no estilo de compositores/cantores que não querem mais nada na vida a não ser beber, compor e cantar, esquecendo até de tudo e todos que estão ao seu redor, e o jovem ator trabalhou até que bem por ser seu primeiro longa-metragem, puxando as expressões de seu Sami mais para os olhares vagos e cantando(ao menos aparentou ser sua voz) até que de maneira bem gostosa lembrando outros bons cantores da atualidade, ou seja, começou bem no cinema, e quem sabe ainda veremos mais trabalhos dele por aí. André Wilms caiu como uma luva no papel de Fernand, funcionando tanto como conselheiro amoroso quanto parceiro musical do protagonista, e o experiente ator trabalhou tão bem que gostaria até que ficasse muito mais tempo em tela e o longa ficasse somente na vida do personagem dele, mas como o foco do filme não é ele, nos momentos em que apareceu, procurou agradar ao máximo com boas expressões e foi perfeito. Julia Faure poderia ter entregado para sua personagem Julia uma dinâmica menos dura, pois não conseguiu dar fluxo nas cenas que mais pediram expressão, e ela como uma atriz já mais experiente saberia dar impacto nas cenas mais dramatizadas que fez. Os demais foram mais encaixes para a trama, dando um pequeno destaque para as cenas de Nils Althaus como chefe de Julia que conseguiu chamar atenção pela forma expressiva de chamar atenção nas suas duas cenas mais fortes, mas nada que desse alguma reviravolta grandiosa para a trama, portanto funcionou mesmo somente como referência de cena.

No quesito visual a trama trabalhou um pouco bagunçada cenograficamente, claro que era o desejo da produção para mostrar o desleixo do protagonista, mas acabou ficando de uma maneira bem estranha e aparentou mais erro do que símbolo dos elementos cênicos. Mas também não podemos ser tão rudes com o resultado final, afinal nas cenas do hospital, a simbologia do personagem de Wilms tudo funcionou muito bem encaixado, e nos momentos da turnê, ficou bem evidente também para mostrar como os cantores de segundo escalão sofrem para viajar em shows. A fotografia desenvolveu uma iluminação mais fria para dar uma certa dramaticidade na trama, e isso em longas musicais deixa o filme um pouco triste demais, e embora a temática da quebra de um relacionamento não seja algo muito feliz, a dinâmica poderia ser aquecida com a tentativa dele em voltar para o seu relacionamento, então luzes quentes ou sombras ao menos chamaria mais atenção do que impor o frio suíço pra cima do protagonista.

Claro que como temos um filme classificado como musical, apesar de as canções apenas funcionarem como a profissão do rapaz, e não um longa inteiramente cantado como estamos acostumados, as canções foram bem escolhidas e interpretadas com primor para dar contexto à história, dando destaque para a música final, que foi o motivo da composição de reconciliação e na voz do protagonista agradou bastante no tom e no ritmo.

Enfim, gostei bastante do que vi, e com toda certeza recomendo o longa para todos que gostam do estilo, por ser leve, bem dinâmico e contando com pouquíssimos erros como pontuei acima, confesso que de todos os longas do Panorama do Cinema Suíço Contemporâneo, esse foi o que mais me agradou até agora, ainda teremos mais três filmes para conferir, mas minha maior recomendação por enquanto é esse. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje, mas volto na terça com mais filmes suíços, então abraços e até lá.


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