O Preço da Fama (La rançon de la gloire)

6/18/2015 02:18:00 AM |

Se tem uma coisa que deixa esse Coelho que vos digita não contente com um filme é quando a classificação dele é controversa, pois embora "O Preço da Fama" possua cenas cômicas, ele está muito longe de ser uma comédia, pois ele comove, diverte, mas não faz rir, e isso é algo que somado ao excesso de trilha sonora até em cenas que não necessitavam, acabou transformando a fase inicial do longa quase em um daqueles longas que te empurram para que você consiga assistir, e com toda certeza Chaplin merecia um filme sobre seus primeiros minutos no além de uma forma melhor. Claro que o filme não fica arrastado por inteiro, ficando muito melhor no terceiro ato, porém uma coisa que tem de ficar de lição para todos que sonham em um dia fazer um filme é que não é porque você conseguiu a liberação de todas as canções de uma banda, que você precisa colocar os 25 álbuns da banda tocando em sequência.

O filme nos mostra que no final dos anos 70, nas proximidades do Lago de Genebra, Eddy Ricaart é libertado da prisão e recebido por Osman Bricha, um grande amigo. Ambos estão passando por um momento difícil completamente sem dinheiro, e Eddy, ao ficar sabendo da morte de Charlie Chaplin, decide sequestrar o caixão do astro e exigir um alto resgate.

É engraçado pensar que a história do longa aconteceu realmente, pois extorquir família de morto é pior do que qualquer coisa já pensada por ladrões, mesmo os que estão em plena necessidade como acontece na trama, e o diretor trabalhou muito bem a história com boas nuances e cenas bem desenvolvidas, o único porém como já disse acima foi o excesso de trilha sonora, e algumas cenas que poderiam ser aceleradas, pois mostrar duas escavações é algo que nem no History Channel é legal, todo mundo sabe que a pessoa fica cansada, que demora e não precisaria de 5 minutos para cada cena. Dito isso é interessante ver como Xavier Beauvois trabalhou com seus personagens de modo a funcionar tanto como pessoas que acabaram fazendo um crime por necessidade, mas também os humaniza ao mesmo tempo que critica, e claro ainda desenvolve neles uma certa homenagem ao grande Chaplin, e assim sendo ele conseguiu trabalhar os diversos vértices que a trama poderia ter, agradando e comovendo, mas caso quisesse dar um tom mais cômico também conseguiria.

Sobre a atuação, temos de dizer o quão incríveis são as expressões de Benoît Poelvoorde que entregou ao seu Eddy um carisma impecável para quem acabou de sair da cadeia, e mesmo seu personagem sendo um pouco atrapalhado, conseguiu cativar as atenções para seu lado "bom", o que chega a chamar muita atenção nas cenas do circo. Roschdy Zem pontuou de forma estranha seu Osman, que não mostrou nem uma perspectiva desesperadora, tirando a penúltima cena no telefone, nem algo que fizesse o público ficar com dó de sua situação, e isso é algo crítico, pois ele em suma é o protagonista da trama, e se desse o mesmo carisma que seu companheiro de cena, teríamos um filme incrível. Séli Gmach infelizmente não começou bem no cinema, pois não obteve seus melhores momentos com seu primeiro papel diante das câmeras, de modo que sua Samira não possui expressão, sendo uma garotinha que apenas está ali na cena, mas não ajudou nem foi ajudada pelos protagonistas para se sair melhor, ou seja, morreu em cena. É engraçado ver Dolores Chaplin que é neta do ator, fazendo o papel de sua mãe no filme, pois não precisaram de ninguém semelhante, já que ela aceitou o papel e mesmo aparecendo pouco fez bem suas cenas com um carisma até que interessante. Hoje não foi o dia para ver policiais em cena nos filmes, pois todos os atores tanto no primeiro filme que vi do Festival, quanto nesse saíram com expressões péssimas e trejeitos completamente fora do que seria aceitável por qualquer policial, e isso atrapalha muito contextualizar a cena com o que estamos vendo, e principalmente por falarmos de longas que se baseiam em realidade, esse erro não pode acontecer.

Embora tenha boas locações: um cemitério muito bem decorado, o local aonde escondem o caixão bem trabalhado mesmo que simples, e até os trailers aonde os personagens moram ficaram bem decorados dentro da proposta de simplicidade dos protagonistas, mas poderiam ter ousado um pouco mais no estilo de época do filme, pois em momento algum conseguimos ligar os anos 70 com a trama, tirando a televisão da casa e alguns carros, e isso em suma é uma falha também. No quesito fotográfico, a luz falsa fez a festa nas cenas de roubo do cemitério e no pântano aonde esconderam o caixão, nem que a lua tivesse do lado deles ou com uma super lanterna igual a da mão do protagonista teríamos tanta luz para iluminar 2 pessoas mais um caixão perfeitamente, já disse uma vez que sou totalmente a favor da iluminação falsa, mas não precisa apelar também não é mesmo, e em diversas cenas de chuva, os personagens praticamente não se molham, ou seja, mais falhas de ângulos escolhidos para representar no filme.

Mas os erros da fotografia não são nada perto do que a equipe de trilha sonora fez, pois temos praticamente todas as canções clássicas dos filmes do Chaplin no longa, mas tocando sem parar, não temos um botão de desligar o som de fundo que muitas vezes sobe tanto que sobrepõe os diálogos, ou seja, compraram ou conseguiram que fosse cedido todas as canções e resolveram colocar tudo na trama, independente de que funcionasse para com a linguagem ou não, e isso é um crime inafiançável.

Enfim, o longa possui muito mais erros do que acertos, e a história tinha um potencial tremendo para se tornar um ótimo suspense com pitadas de comédia, ou uma comédia totalmente inusitada, mas fizeram uma lambança tão grande que acredito que o Chaplin se revirou mais no túmulo ao ver o filme do que o tanto que seu caixão caiu nas cenas do filme. Portanto é um filme que até funciona de certa maneira um pouco nostálgico com as cenas e músicas dos filmes do grande Chaplin, mas falhou demais para recomendar ele para alguém, portanto só veja se estiver com muita vontade mesmo. Bem é isso pessoal, encerro aqui minha participação no Festival Varilux, uma pena que não veio o filme "O Que Eu Fiz a Deus?" para o interior para que completássemos a programação toda do Festival, mas tivemos muitos bons filmes que agradaram na maioria e já vamos ficar com saudade até o próximo ano da grande quantidade de longas franceses na cidade, mas daqui duas semanas já temos outro festival para conferir, agora o Suíço que desembarga na cidade pela primeira vez, então abraços e até breve com as estreias da semana.

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