Riocorrente

5/21/2015 09:15:00 PM |

Olha... Cada vez que lembro da frase que com uma ideia na cabeça e uma câmera na mão se faz um filme, e na sequência vejo um filme experimental do estilo que foi apresentado em "Riocorrente", na sequência fico me perguntando o motivo de uma pessoa desejar queimar dinheiro fazendo tais coisas. Não digo que o longa não entregue diversos pontos de vista e até algumas ideias inteligentes, mas o não desenvolver, o não trabalhar a ideologia, e o ser diferenciado ao ponto de apenas brincar com a expansão da mente do espectador acaba irritando e cansando de tal forma que fico mais e mais chateado de outros bons diretores não conseguir filmar seus projetos coerentes. Ou seja, 72 minutos perdidos é o que posso resumir do filme.

A sinopse do longa nos diz que: São Paulo é um barril de pólvora prestes a explodir. Em meio ao turbilhão da cidade, Marcelo, um jornalista, Carlos, um ex-ladrão de automóveis, e Renata, uma mulher misteriosa, vivem um intenso triângulo amoroso. Carlos tenta cuidar do menino Exu, mas ele passa o dia inteiro pelas ruas da cidade. O choque entre seus desejos e o atrito entre as faces opostas da cidade apontam a urgência de mudanças radicais.

Não podemos dizer em momento algum que o diretor e roteirista Paulo Sacramento não foi feliz no que tentou fazer, muito pelo contrário, seus planos foram bem encaixados, sua ideia foi transposta do papel para a tela, a computação gráfica ficou interessante, mas cadê o sentido de tudo se conectar? Cadê o mote para que as pessoas se envolvam sem ser apenas uma tela pintada aonde o artista apenas joga a tinta expressando seus sentimentos, mas que alguns vão aplaudir dizendo lindo sem ao menos ver nada ali? Esse é o sentimento da maioria ao sair da sessão: a sensação de que saiu de uma daquelas mostras aonde temos diversos ferros retorcidos que nada dizem, mas que os críticos julgaram ser a nova maravilha do mundo moderno e pra você é apenas um monte de nada. Posso estar até sendo cruel demais com o que vi, mas o diretor poderia ter feito um longa interessantíssimo e saiu com algo mediano pra baixo apenas bem produzido.

Quanto da atuação, já estou me acostumando que entregam sempre papéis estranhos para Lee Taylor, que possui sempre uma expressão fechada e pronta para refletir diversas dúvidas existenciais em quem for procurar algo de seus personagens, e dessa maneira o seu Carlos fica até interessante de analisar e acompanhar, mas como é dito no longa, seu pensamento expande tanto quanto uma dinamite e a explosão de ideias e expressões acabam figurando demais e dizendo de menos. Simone Illiescu nos entrega uma Renata tão problemática quanto ninfomaníaca, e ao final do longa não conseguimos determinar se ela quer um recomeço para sua personagem ou é apenas uma maluca que quer aproveitar a vida conhecendo o novo e dando todos os dias, e isso ficou raso demais para a boa atriz que é, pois nos momentos que precisou dialogar demonstrou que teria potencial para desenvolver um história até que interessante. Roberto Audio coloca o seu Marcelo como o personagem inteligente, culto, mas que está preso ao modo velho e careta de ser, e isso para uma cidade como São Paulo é intolerável segundo o texto, e com expressões até estranhas demais, ficamos sem muita empolgação com o que ele nos entrega, de forma que não pareceu ser importante nem bem usado na trama. Vinicius dos Anjos fez de seu Exu algo tão incisivo que se o garoto não era um meliante de rua antes de se tornar ator, e não digo isso como algo preconceituoso, podemos dar a ele facilmente um bom prêmio de interpretação, pois ficou perfeito tudo que fez, desde olhares até trejeitos e isso para uma criança é algo duro de fazer.

A cenografia foi bem desenvolvida par dar o determinismo de cada personagem, colocando até moldes tradicionais demais para um filme experimental,  mas nesse quesito o que posso dizer é que a equipe foi minuciosa em detalhes cênicos para que tudo estivesse representado e até sobrasse para subjetivar as ideologias propostas pela direção, então o acerto até que foi coerente, porém, como disse desperdiçado, já que o longa não foi desenvolvido como deveria ser, e assim temos um visual legal, efeitos interessantes e bem feitos, mas que apenas estiveram na tela, já que a proposta era apenas de causar. A fotografia da trama trabalhou bem com iluminações difusas para dar contraste, e em momento algum emaecendo as cores, procurando sempre o tom mais forte para impactar e ajudar o diretor a expressar seus instintos, de modo que temos até o estilo da trama marcado como algo bem puxado para o hardcore.

Enfim, garanto que vai existir quem goste desse estilo, afinal o longa foi classificado para estar num Festival que é denominado Melhores Filmes,  mas confesso que não vai agradar nem um pouco quem pensar como eu, que a arte abstrata é feita apenas para o próprio umbigo do diretor, e assim, o resultado acaba sendo mais vago do que chocante ou intrigante, ou seja, em uma cidade que tudo é tão corrido como é São Paulo, economize seu tempo e gaste os 72 minutos de duração do longa com qualquer outra coisa mais produtiva.


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