Metanoia - Mães de Joelho, Filhos de Pé

5/31/2015 11:19:00 PM |

Filmes que envolvam a temática drogas sempre são duros e costumam cansar os espectadores, salvo raras exceções, e dificilmente conseguem passar toda a realidade vivida pelos personagens sem fantasiar demais as coisas. Porém com "Metanoia - Mães de Joelho, Filhos de Pé", o diretor optou trabalhar de uma maneira mais ousada, colocando mais realismo nas cenas de fumo, nas vertigens e tudo mais, mesmo que pra isso ele precisasse pecar por diálogos de certa forma fracos, mas que são comuns das conversas de usuários e de amigos. E fazendo o uso dessa linguagem, o filme parece visceralmente feito por um ex-usuário, aonde transmitiu toda sua vivência para que outras pessoas soubessem dos problemas, de como uma mãe se sente ao ver o filho passando mal e não poder fazer praticamente nada, e que se tratando de um longa cristão, que através de algo maior é possível largar as drogas. Muitos podem até criticar o filme por usar o feitio religioso como salvação e tudo mais, mas a mensagem passada e a forma desenvolvida constrói um longa bem moldado, que para a perfeição faltou bem pouco devido a certos erros técnicos, porém a ideologia da trama é bem passada e agrada sem ser um longa novelesco como costumam fazer com filmes nacionais.

O filme nos mostra que Eduardo é mais um em meio aos milhares de usuários regulares e dependentes do crack. Criado na periferia de São Paulo, a boa educação oferecida por sua mãe, Solange, não o impediu de ficar preso no mundo das drogas. Ele fica perdido em meio à autodestruição, enquanto Solange tenta desesperadamente salvar o filho do vício.

Por ser seu primeiro longa, o diretor e roteirista Miguel Nagle quis colocar o roteiro inteiro que escreveu com o protagonista Caique Oliveira na tela, e poderia ter cortado muitas cenas repetidas, mas isso é o famoso desespero para que tudo que imaginou e filmou entre no longa, e além disso, mesmo tendo sido editado a três mãos, algumas cenas aparentaram entrar em uma forma meio que desconexa, por exemplo a cena anterior do velório ficou meio estranha, mas alguns podem achar como um flashback e aceitar. Porém tirando esses detalhes técnicos, o filme funciona, não cansa mesmo tendo quase duas horas, e o diretor mostrou que tem um feeling bem interessante para cenas mais dinâmicas, então provavelmente seu próximo filme deva ficar ainda melhor. A história em si é bem pesada e alguns até fantasiariam ela para que o resultado fosse mais fictício, porém trabalharam o roteiro com a dramaticidade correta e usando trejeitos característicos de São Paulo, o que mostra uma pesquisa bem fundamentada e um planejamento correto para com os diálogos.

Quanto das atuações, embora Caique Oliveira tenha interpretado bem o protagonista, senti ele um pouco velho para o papel e talvez contratar um ator mais novo daria uma vertente mais interessante para o personagem Eduardo, pois no começo sua mãe pareceu mais uma irmã ou esposa do que mãe, mas isso é apenas um detalhe, visto que ele fez boas expressões e vivenciou bem toda a situação, então o resultado final acabou não sendo atrapalhado. O que não ocorre com Caio Blat, pois já não é um ator tão novo, mas ainda possui cara de novinho, e o playboy Jeff acabou funcionando perfeitamente para suas características, e o ator com um desenrolar bem pautado soube dar uma dinâmica interessante para praticamente todos os seus momentos, agradando bastante com o que faz em cena. Einat Falbel foi bem no papel da mãe Solange fazendo caras desesperadas, e sofrendo muito através de suas expressões e soube caracterizar bem o sentimentalismo sem ficar forçado, o que é raro hoje no cinema nacional, então a atriz mostrou-se bem diante das cenas que precisou fazer e como disse no caso do protagonista, com alguém mais novo chamaria mais ainda sua atenção. Como os demais fazem praticamente figuração de luxo, tendo uma ou outra cena que falam mais, os destaques claro ficam com Thogun fazendo um traficante bem caricato e numa pequena cena Solange Couto dá um show de interpretação fazendo a mãe de outro viciado.

A equipe artística do filme trabalhou bem ao não inventar moda, pois já que o filme envolve o crack, nada melhor do que inserir os personagens no lugar mais icônico de São Paulo que é a crackolândia, e assim acertar as demais locações como cenários secundários que foram bem encaixados também, principalmente para mostrar as fases e condições, como o apartamento do playboy cheio de festas, a casa simples do protagonista inserida bem dentro da comunidade e até mesmo o sitio de reabilitação foi bem trabalhado. Claro que não temos um superprodução e com o orçamento bem baixo, não foi ornamentado o filme com muitos objetos cênicos, mas no geral o resultado é interessante de se ver. A equipe de fotografia também usou recursos para que os efeitos não soassem tão falsos e com isso optou muito em filtros de cores diversas para representar cenas mais impactantes puxando o tom para algo mais escuro e avermelhado, outras vezes dando mais sujeiras em cena, em alguns usou da trepidação da maneira correta para dar vertigem, ou seja, simples mas bem feito.

Enfim, não posso considerar o longa como um filme fantástico, mas ao que se propôs e o que foi entregue consegue agradar bastante e satisfazer. Claro que alguns defeitos vão incomodar, mas o resultado foi um filme bem feito e interessante para conscientizar o problema das drogas e um pouco do que causa na família, e assim faz valer o ingresso para que conheçamos um pouco mais de tudo isso. Então uma sugestão interessante é que façam sessões para escolas e pais para o impacto ser mais bem colocado, e também recomendo como um filme bacana de ser visto. Bem é isso pessoal, fico por aqui hoje encerrando já essa semana cinematográfica, mas fico na torcida para que a próxima venha bem recheada, então abraços e até breve.


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