Nós Somos as Melhores!

4/21/2015 11:15:00 PM |

Filmes que trabalham com a rebeldia de jovens, o deslocamento frente a sociedade e até mesmo a adolescência problemática costumam convergir para um lado mais deprimente, pois mesmo tendo algumas coisas cômicas e divertidas dentro das situações propostas, em geral não conseguem agradar entregando algum conteúdo que faça o público se aproximar do que é mostrado, talvez em exibições escolares aonde a garotada está passando por esses problemas até agrade mais, mas o público de cinema mesmo acaba vendo e não chegando nas mesmas conclusões que o diretor desejava passar. Aqui em "Nós Somos as Melhores!", o diretor Lukas Moodysson até conseguiu segurar a barra bem durante os dois primeiros atos, mas no terceiro já estamos vendo os probleminhas polêmicos e chatos que dificilmente quem não é adolescente consegue suportar, de modo que o filme resulta bem em mostrar o deslocamento das garotas frente à tudo que passam, mas não chegam a ser envolventes o suficiente para que torçamos para elas se darem bem na vida e conseguirem ser a melhor banda punk do mundo.

O filme nos mostra que Bobo e Klara, duas garotas suecas de 13 anos, querem montar uma banda punk, mesmo que todos digam que o punk morreu. Elas cortam seus cabelos em estilo moicano e recorrem à música para protestar e vencer o tédio. Mas, na verdade, as garotas não sabem tocar nada. Para melhorar a qualidade da banda, chamam a tímida e certinha colega Hedvig, brilhante na guitarra. Uma história sobre as dificuldades e encantos de crescer e não se encaixar em lugar nenhum.

A ideologia do roteiro é bacana e bem feita, só que o diretor Lukas Moodysson que é meio revoltado com filmes comerciais, optou por trabalhar exatamente com um lado mais próximo dos jovens da idade das garotas, então é notável que o filme quis mostrar o deslocamento delas do contexto familiar que elas estão inseridas, e também os problemas que surgem com alguns tipos de "rebeldia" comuns na idade também, mas faltou o apego da história para que não fosse apenas um filme sobre a adolescência problemática nos anos 80 na Suécia pós-punk, e sim algo mais autoral que trabalhasse o roteiro e todo o contexto que agradaria, faria o público discutir e seria mais agradável de acompanhar. No geral o diretor fez boas cenas e consegue pontuar bem em todas que contém as 3 garotas, mas nas cenas que envolvem os familiares é absurdo atrás de absurdo, com familiares praticamente bobos demais até o menos rebelde gostaria de fugir do que eles fazem, ou seja, poderia ter sido mais crítico nesse contexto ao trabalhar o roteiro.

Se existe uma coisa que você não vai ver nesse longa é um personagem clichê dentre as protagonistas, pois temos três garotas que embora tenham os mesmo problemas de baixa alto-estima, liderança conturbada, conflitos com crenças religiosas e timidez comuns na idade delas, todas possuem um jeito próprio de atuação que posso garantir que mais pra frente veremos outros filmes suecos com elas fazendo bons papéis, pois cada uma deu seu jeito próprio para o personagem trabalhando tanto o contexto visual delas como com o emocional que agradou bastante, além claro do detalhe de todas serem estreantes no cinema, ou seja, foram precisas e bem condizentes com o que o diretor certamente lhes pediu. Mira Barkhammar fez de sua Bobo a dúvida entre a centralidade pessoal de ser ao mesmo tempo estudiosa, mas ter uma família maluca e completamente quebrada, e por ser sempre jogada para escanteio mesmo entre as amigas, acabou usando das expressões mais tristes para chamar atenção na tela. Mira Grosin já foi completamente ao inverso, sendo mais descolada e até rebelde demais com hiperativismo em demasia, deixando claro que sua personalidade marcante é o ponto forte. E Liv LeMoyne inicialmente parecia ser algo completamente fora do contexto das duas protagonistas, mas acabou encaixando tão bem o seu problema de conflito religioso com a mãe, junto de estar apta a ajudar as outras garotas que seu ar mais tranquilo até que equilibrou as cenas que tem as três juntas. Dos familiares, como disse no parágrafo anterior me recuso a falar que as cenas beiram o ridículo. E dos garotos foi algo tão rápido o envolvimento deles e com algumas cenas até com pouca falta de expressão que é melhor concentrar nelas mesmo a atenção e esquecer tudo o que ocorre em volta.

O formato visual do longa não foi muito trabalhado, de modo que temos cenários bem simples para não haver discussão artística com a proposta, então nas cenas dentro da escola não temos nada que elucide problemas duros com as garotas, claro tirando a aula de Educação Física que acaba virando mote da música do começo ao fim do filme. Nas casas das garotas não trabalharam nada que encaixe o filme realmente na época dos anos 80, pois tirando a datação inicial não temos tantos elementos para colocar o filme como algo de época, e isso em parte é um erro bem grosseiro, mas ao trabalhar bem no local de ensaios, acabou com a cena mais bem encaixada para fechar o cenário pós-punk que o filme desejava. A questão fotográfica também foi bem simplória ao colocar sempre as nuances problemáticas com cores mais fortes e os momentos aonde não haviam conflito algum num tom mais neutro, e isso é algo meio batido, mas funciona mesmo que não chame atenção.

Enfim, talvez se o longa tivesse ligado a trama a alguma realidade de alguma banda formada, ou até mesmo tivesse fechado mais o cerco familiar para evidenciar os problemas das garotas, teríamos com certeza um filme bem melhor, mas como foi feito acabou apenas tendo algumas cenas engraçadinhas e bem colocadas, mas nada que qualquer outro filme por aí não tivesse feito melhor. No geral é um longa que assistimos e saímos sem questionar nada, apenas como algo a mais feito no cinema, ou seja, mesmo tendo bons momentos não é algo que indicaria para assistir. Fico por aqui hoje, mas amanhã já inicio a nova semana cinematográfica com o único longa que deve vir para o interior, então abraços e até breve pessoal.


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