Caminhos da Floresta

1/30/2015 01:08:00 AM |

Particularmente, contrariando muitas pessoas, sou um dos poucos que ainda gostam de ver musicais no cinema, claro que alguns estilos de cantoria irritam, mas em alguns estilos de filme acabam sendo uma boa forma de transmitir a ideia do roteiro. Em "Caminhos da Floresta", o conteúdo da história é muito bem desenvolvido, contando algo até bem interessante de acompanhar, mas embora o musical da Broadway já tenha levado vários prêmios, acredito que uma versão mais dramatizada e menos cantada agradaria bem mais do que o que foi apresentado, já que algumas canções até são bonitinhas, mas algumas ficaram tão repetitivas em alguns momentos fiquei pensando o tanto que o pessoal reclama das repetições do funk, o que falariam do filme. Mas tirando esse detalhe é um longa que vale a pena tanto pela estética quanto pelo conceito moral que acaba impondo.

O filme nos apresenta um padeiro e sua mulher que vivem em um vilarejo, onde lidam com vários personagens famosos dos contos de fadas, como Chapeuzinho Vermelho, Cinderela, João e o Pé de Feijão, entre outros. Um dia, eles recebem a visita da bruxa, que é sua vizinha. Ela avisa que lançou um feitiço sobre o casal para que não tenha filhos, como castigo por algo feito pelo pai do padeiro, décadas atrás. Ao mesmo tempo, a bruxa avisa que o feitiço pode ser desfeito caso eles lhe tragam quatro objetos: um capuz vermelho como sangue, cabelo amarelo como espiga de milho, um sapato dourado como ouro e uma vaca branca como o leite. Eles têm apenas três dias para encontrar tudo, caso contrário o feitiço será eterno. Decididos a cumprir o objetivo, o padeiro e sua esposa adentram na floresta.

A primeira coisa que preciso deixar de sobreaviso todos que pretendem ver o filme é: se você não gosta de musicais nem pense em ir ao cinema, a chance de reclamar de tudo é absurda. Dito isso, se você não liga ou gosta do estilo, ainda é capaz que você reclame um pouco, já que como disse no início, o longa se tivesse sido feito em formato tradicional dramatizado talvez agradaria mais, mas acabaria muito semelhante à série "Once Upon a Time", que vem decolando na TV temporada em cima de temporada, ou seja, se alguém lá dentro cogitou essa possibilidade, foi vetado rapidamente. O roteiro foi adaptado e musicado por James Lapine e Stephen Sondheim, e pra quem não conhece, Sondheim não é daqueles que costuma fazer coisas muito alegres, então é notável o estilo pesado na trama, de forma que em certo momento na sessão comecei a rir com a moça atrás de mim que falava: "só tem tragédia nesse filme", além de não parar de conversar com a telona como se fosse uma novela interativa para responder ao que ela falava. Até aí no quesito montar uma história mais pesada não tem problema, já que para quem leu algum dos contos dos Irmãos Grimm sabe muito bem que as histórias bobinhas da Disney foram totalmente maquiadas, mas aí entrar o diretor Rob Marshall que fez um dos musicais mais cultuados do cinema, "Chicago", e outro que foi bem falado "Nine" e esquecer suas bases consolidadas de trabalho desenvolvido, foi algo decepcionante, pois ao menos o que o público que gosta do estilo esperava era que ele não apenas lotasse o filme de estrelas, mas que fizesse a história ser criada pelas estrelas e assim agradar bem mais, o que acabou não acontecendo.

Falando nas estrelas, Meryl Streep está ótima como bruxa, mas se atrapalhou um pouco com a cantoria diferentemente do que fez em "Mamma Mia!", talvez por suas canções não serem tão rimadas ou pelo excesso de maquiagem atrapalhar no desenvolvimento do personagem, o que acabou sendo estranho, claro que adoramos ela e gostamos de vê-la sempre indicada à prêmios, mas infelizmente dessa vez não mereceu. James Cordem não era um ator que me chamava a atenção, mas vem se destacando e aqui seu padeiro tem características bem pontuadas e por cantar menos, acabou dentro de algo que agradou o suficiente dentro da trama com poucas expressões fora de rumo, mas nada que chegasse a atrapalhar, muito pelo contrário funcionando bem. Emily Blunt foi da água ao vinho na trama sendo a mulher do padeiro, inicialmente as mulheres adorando suas performances e situações, mas ao chegar nas cenas finais só vaca era o nome mais carinhoso que as moças da sessão à chamava, claro que isso mostra o quão boa é a atriz para desenvolver o personagem em diversos âmbitos e fazer com que todos olhassem muito para ela, o que é um ponto bem positivo, então valeu o que fez. Anna Kendrick por alguns momentos pareceu sua amiga Hathaway tanto visualmente quanto no quesito interpretativo com sua Cinderela, e não li muito sobre como foi gravado as vozes, mas mandou tão bem, assim como já fez em outro musical que mal podemos aguardar "Escolha Perfeita 2" para ver o que deve aprontar vocalmente, além disso seu personagem teve boas cenas, então a sua performance foi algo que acabou agradando também. Agora sem dúvida alguma os pontos positivos maiores ficaram à cargo de Lilla Crawford e Daniel Huttlestone com Chapeuzinho Vermelho e João (ou Jack no original), pois os dois fizeram de seus personagens algo muito além do que qualquer um pudesse imaginar, cantando bem, desenvolvendo uma postura sólida incrível e criando algo na história completamente inesperado para duas crianças, o rapaz já havia sido interessante em "Os Miseráveis", mas como trabalho de estreia a garotinha veio com tudo no mesmo ritmo, quiçá melhor, e assim queremos vê-los em mais longas. Em contrapartida a decepção do filme ficou por conta do lobo de Johnny Depp que é quase um enfeite dentro do filme, sem expressão nenhuma que é sua característica, e principalmente sendo um personagem bem bobo, mas ainda assim ele conseguiu perder para a gafe master do longa que foi a cena cantada pelos dois príncipes Chris Pine e Billy Magnussen na cachoeira, que faz com que eu tenha a certeza total de que homem bonito é uma gazela aguardando para sair do armário, depois disso nem dá para ver mais nenhuma cena deles sem rir. Os demais personagens até fazem bem seus papéis, mas nenhum destaque acaba sendo relevante, mesmo alguns sendo até de importantes contos de fada, mas ficaram apenas colocados dentro da trama, tendo uma ou outra cena importante para desenvolver.

Outro ponto muito bom da trama é a direção de arte, afinal o conceito visual que criaram para a parte mais importante da história, que é a floresta, ficou algo digno de ser lembrado, e dessa forma acabou sendo indicado ao Oscar também nessa categoria, claro que as nuances da fotografia sempre puxando para o tom preto ajudou e muito a desenvolver o cenário criado, mas a quantidade de pontos chave para que os protagonistas desenvolvessem seus textos foi algo bem pensado e incrível de olhar. E para destacar também a outra indicação do filme ao Oscar é a questão do figurino que até nos envolve, mas por ser algo totalmente dentro do que conhecemos dos contos de fada, não chega a chamar tanto a atenção, ainda que sirva bem dentro da proposta artística da trama. Muitos reclamaram do filme não ser indicado à cabelo e maquiagem, mas o destaque nesse quesito só ficou por conta da Bruxa e de Rapunzel, já que o restante coube à figurino e arte que acabou levando a indicação, ou seja, dessa vez foi ao menos um acerto da escolha da Academia.

Estamos falando de um musical da Broadway, então as canções são obrigatoriamente algo que necessita ser bom, e com músicas que possuem uma sonoridade gostosa e bem ritmada a chance de você sair cantando algumas da sala é alta, mas como disse, elas funcionam por trás da trama, não tanto sendo as falas do filme, pois tudo cantado cansa um pouco, talvez se fossem usadas apenas como base agradaria bem mais, claro que não tiraria nenhuma da Chapeuzinho, nem do João nem da Cinderela, já que os três foram os melhores no quesito musicalidade.

Enfim, não sei se estava com expectativa demais para o filme ou se realmente faltou algo que me fizesse apaixonar pelo que vi, de forma que o resultado montado na última cena é excelente e agrada bastante, mas como o miolo foi algo meio que broxante, não saí tão feliz quanto poderia e gostaria. Claro que recomendo ele para quem gosta de musicais, e somente esse grupo, pois repito, se esses já irão reclamar de muita coisa como eu fiz, o restante vai achar de insuportável pra cima. Bem é isso pessoal, foi apenas o começo dessa semana cinematográfica recheada de estreias pelo interior e de muitas faltas que queríamos também, então aguardem que teremos posts novos praticamente todos os dias, então abraços e até bem breve.


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