Lucy

8/30/2014 12:26:00 AM |

Sei da quantidade de amigos que estavam esperando para ver "Lucy" e confesso que inicialmente não fiquei muito empolgado com o trailer, mas daí uma curiosidade aparecia num canto, outro comentário em outro, e ao saber que o filme não foi bem lá fora já estava no desespero para saber os motivos disso ocorrer. Pois bem, a explicação é totalmente simplória para o filme não ter decolado, não é americano e não é algo tão simples de se envolver, pois para ter 100% do aproveitamento do longa será necessário acreditar em alguns processos físicos que envolvam o principal elemento da natureza que ainda não conseguiram explicar bem e cada vez bagunçam mais a nossa mente que é o tempo. Dito isso prometo que é o único spoiler que precisava dizer para explicar a frustração de muitos que chegaram a mil na sala prontos para uma aula de educação física com a professora gostosa e saíram parecendo que viram uma aula de matemática das mais pesadas com um professor chinês.

O filme nos apresenta Lucy, uma jovem que é recrutada por mafiosos orientais para transportar drogas no próprio estômago. Depois de seu corpo absorver a substância, Lucy passa a usar a capacidade total de seu cérebro, se transformando numa supermulher, capaz de adquirir conhecimento instantaneamente, mover objetos com a mente e incapaz de sentir dor.

Um fator interessante é ver um filme todo trabalhado em ideologias, ter cara de algo gigantesco e ter custado somente US$40 milhões, essa façanha que Luc Benson conseguiu fazer pode ser uma jogada de sorte, mas prova que o cinema francês que já fazia bons filmes artísticos, também pode brincar com coisas mais lotadas de ação que poderá dar muito certo. Claro que o filme não foi bem em seu início nos EUA, mas já que coloquei matemática na abertura do texto, posso exemplificar ele melhor com uma equação bem simples: "Pegue aquele Powerpoint imenso que Terrence Malick fez em 'Árvore da Vida' e extraia apenas as ideologias para que aqui seja mostrado realmente o valor, adicione as ideias malucas do filme 'Transcendence' porém aqui usando algo menos complexo, mas que ainda envolva bastante, coloque uma atriz maravilhosa que saiba atuar divinamente, salpique com um ator que não faz um filme ruim que seja, e pronto temos o filme perfeito". Não precisaria dizer mais nada sobre o longa, mas vale ressaltar ainda o ritmo frenético gostoso que faz dos curtos 89 minutos de duração, algo menor ainda, mas que teve um começo bem explicativo, um miolo interessante de acompanhar e um fechamento que dispensa palavras, pois quem prestar atenção na explicação que a protagonista dá ao personagem de Morgan Freeman alguns minutos antes vai pegar o queixo no chão com o que acontece. O diretor foi sábio em trabalhar bem no desenvolvimento inicial, usando diversas metáforas com imagens bem trabalhadas que não estão ali soltas, mas sim bem encaixadas com tudo que é dito, ou seja, um brilhantismo único, e além disso, mesmo não facilitando tanto as coisas, com ângulos bem colocados de câmera e acelerações bem trabalhadas, o filme vira algo que não sabemos como pode terminar, mas que agrada demais com todo o conteúdo passado, não ficando nem heroico demais, como muitos esperavam, e nem ficando bobinho demais para ser entregue sem razão, um raro acerto de mão que o diretor não fazia há tempos.

Falei muito da direção, mas boa parte do sucesso do filme vai recair tanto pela beleza de Scarlett Johansson quanto pela boa atuação que ela faz de uma maneira tão interessante que nos vemos rapidamente torcendo para ela detonar todos os chineses do planeta, e mais do que isso, a atriz que já vem despontando há bastante tempo, soube colocar sua expressão num nível abaixo do estrelato, parecendo ser uma jovem iniciante disposta a tudo, o que nos faz pensar a diferença que seria o filme se a escolha principal para o papel(Angelina Jolie) tivesse aceitado de cara. Morgan Freeman é um ser único de outro planeta que pode fazer até ponta em comercial de suco diet que ficará bem colocado e não erra na interpretação jamais, aqui em diversos momentos vemos que mesmo ele sendo um cientista bem colocado no meio, que já tem todo um embasamento na pesquisa, sua reação é a mesma de qualquer cientista que quando vê que suas teorias existem mesmo não sabem o que fazer, façam o teste, quando alguém ficar falando muita coisa diga que ele está certo, a reação você verá que é a mesma do grande ator aqui no caso, ou seja, perfeito. O egípcio Amr Waked faz umas caras tão assustadas frente a ser confrontado como macho alfa no papel do delegado Pierre Del Rio, mas não consegue ter reação para o nível da protagonista, o que acaba ficando divertidíssimo observar dentro dos seus movimentos, além de que não recaiu graças a Deus no casalzinho banal tradicional, que é mais um ponto para o roteiro de Benson. Min-sic Choi faz um vilão interessante, mas fraco de engatar, tanto que se o longa fosse algo mais voltado para super-heróis com toda certeza poderíamos reclamar de suas atitudes, mas como ele faz algo mais envolvente por não dar chances para a vítima, valeu suas insinuações e reações. Dos demais, a maioria faz pontas e nem quase vale a pena seus atos, servindo apenas para dar ligação ao filme, então vale apenas observar cada um na maneira que joga a bola da cena para os protagonistas.

Outro ponto que vale a pena observarmos é que mesmo tendo muitos efeitos visuais, o diretor priorizou locações simples, não necessitando criar nenhum mundo abstrato, nem um laboratório cheio de engenhocas estranhas, claro que nas cenas finais temos alguns elementos diferenciados como auge dos 100% e com isso tudo acaba sendo mágico, mas temos boas cenas em prédios comuns, hospitais e mostrando uma cidade bem realista que conseguimos observar tranquilamente. As imagens escolhidas para ilustrar de forma explicativa o início do filme foram bem colocadas, mas ao mostrar os primórdios dos homens das cavernas, acredito que poderiam ter melhorado mais já que tivemos filmes bem mais realistas nesse quesito, mas somente isso me incomodou um pouco, nada que chegasse a atrapalhar qualquer outro mérito que o filme atingiu. A fotografia foi bem incorporada na trama e com as cores vivas para chamar atenção nos elementos que a arte definiu como importante, souberam trabalhar as nuances dos filtros e dos efeitos mais malucos possíveis de uma forma bacana, que até poderia ser melhorada, mas como estamos falando de algo de médio orçamento, não podemos cobrar algo cheio de loucuras.

Com uma trilha sonora de primeiro nível que nos envolve desde o início e finaliza de forma melhor ainda, o filme cativa um ritmo único para a trama, fazendo com que saíssemos mais empolgados do que entramos. Podemos dizer que Eric Serra sempre fez boas trilhas, mas aqui chegou num ápice incontestável de seu trabalho brigando bastante com o que fez de bom em sua parceria com o diretor no "O Quinto Elemento".

Enfim, é um excelente filme que vai conquistar quem estiver com a cabeça livre para algumas ideologias, mas que vai pegar feio com quem for esperando ver um "Sem Limites" feminino, pois aqui a essência mesmo envolvendo drogas é outra e particularmente mesmo sendo mais viajada agrada bem mais. Como gostei de ambos sou suspeito pra falar, mas não vá com expectativa de ver um filme idêntico, senão a chance do tombo é bem alta. Recomendo com toda certeza para quem gostar de algo diferenciado e envolvente, apenas deixando bem explícito o que disse acima. Até que o texto não ficou tão grande como imaginava, mas espero ter falado bem dos pontos que achei importante sem colocar claro spoilers nem contar a história que é algo que sempre prezo aqui, então vá ao cinema, tire suas conclusões e volte aqui para discutirmos mais, ou me convide para uma discussão num bar que esse filme merece muito bate-papo. Fico por aqui agora, mas ainda tenho uma estreia e uma pré para conferir, então deixo meus abraços com vocês e volto logo com mais posts.


4 comentários:

RoXStrondA disse...

Filme top demais!!! Recomendo

Fernando Coelho disse...

Olá RoxStrondA!! Realmente muito bom né o filme, e não consigo me conformar que teve tanta gente que odiou!! Agora estou com medo do segundo que estão falando em fazer! Abraços!

RoXStrondA disse...

Olá Fernando!! Faz tanto tempo que fiz este cometário que tinha até esquecido e nem sabia da remota possibilidade de ser respondido; fico lisonjeado pela resposta!
Quanto a sequencia, eu acabei nem pesquisando muito sobre o filme e não vi que estão cogitando uma continuação. Acho que este filme se encaixa naquela parcela dos quais não precisam ter sequencia justamente pelo fato de não ter o que mais explorar, afinal o unico ponto que poderiam falar na sequencia seria o uso do conhecimento por parte do dr. que ganhou o pen drive. Não acho que seria uma boa ideia pois poderia viajar demais. Mas como, geralmente, quem manda é o dinheiro... Se tiver quem financie eles o farão.

Fernando Coelho disse...

Olá RoXStrondA!!! Com toda certeza respondo todos meus leitores, afinal aqui é um lugar para discutirmos também minhas loucuras!!! Realmente pararam de falar (Graças aos deuses do cinema!!), mas se aparecer algum doido daqui uns anos com verba, e titio Morgan Freeman não tiver ido dividir o céu com Deus, pode crer que irão fazer mesmo!!! Vamos torcer para que não ocorra isso! Abraços!

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