Julio Sumiu

4/23/2014 01:12:00 AM |

É interessante observar que mais de 50% dos filmes produzidos no Brasil são comédias, e ã estatística fica até ainda mais impressionante se observarmos que as bilheterias deles ocupam praticamente 90% do total dos filmes nacionais lançados, ou seja, porquê raios ainda estou pensando em produzir um suspense nacional? Bom, feito o momento revolta desse Coelho que vos digita sempre aqui, vamos falar da nova comédia nacional "Julio Sumiu" lançada juntamente com a que vimos ontem, e aí entra mais uma incógnita, porque duas comédias nacionais são lançadas juntas pra ratear o público de uma delas ou porquê nenhuma das duas possui apelo carismático suficiente pra chamar o público que outros sucessos tiveram? Bom poderia largar uma tonelada de questionamentos por aqui, e responder bem poucos deles, afinal o cinema nacional é algo que ainda nem com muito estudo conseguiremos chegar à grandes conclusões e alguns amigos ex-professores estão até usando essas incógnitas como base de suas dissertações de Mestrado e Doutorado, então em breve alguém poderá nos dizer tudo isso com maior clareza, mas o que vale falar é que ao menos comparando o que vi hoje com o que foi apresentado ontem, nesse é possível rir de algumas situações, a atriz principal possui muito carisma e a produção ao menos se deu o trabalho de criar uma boa cenografia, ainda está longe de ser algo que agrade bastante, mas já agrada bem mais.

O filme nos situa na Zona Sul do Rio de Janeiro, onde Edna é mãe de Julio e Sílvio. Um dia ela acorda desesperada ao perceber que Julio simplesmente desapareceu, sem deixar pistas. Preocupada, ela vai à delegacia com Eustáquio, seu marido, mas eles são destratados pelo delegado adjunto J. Rui, que estava mais interessado em conquistar a colega de trabalho Madalena. Após receber na secretária eletrônica um aviso de que o filho está com Tião Demônio, o chefão do tráfico do morro ao lado, Edna decide ir até lá negociar. Surpreendida por um tiroteio, ela acaba guardando 20 kg de cocaína para o traficante que, em troca, promete libertar Julio. O problema é que Sílvio, ao descobrir a cocaína, decide vendê-la.

O longa como colocado na sinopse é bem simples e poderíamos considerar ele como um episódio alongado de "A Grande Família" colocando drogas no meio da história. E o interessante é que o filme funciona bem dessa forma, com uma protagonista matriarcal cativante que tem ao seu redor uma família maluca, que se envolve com diversos malucos para contar uma história que todos já sabem o final logo pela abertura. E com isso em mente, ao assistir o filme é necessário mais curtir o que é mostrado do que rir propriamente com algo que é mostrado, não que não exista cenas cômicas, pois algumas até são bem divertidas, mas o andar do filme é gostoso de acompanhar vendo todas as trapalhadas que se ocultam por trás de milhares de palavrões ditos ao longo de toda a duração dele, ao invés de se preocupar com algo tão próprio de comédias blockbusters, afinal o longa não é nenhum dos grandes nomes esperados para esse ano, contando apenas com auxílio de marketing da grande poderosa empresa nacional. O diretor estreando agora em ficções após fazer diversos documentários, Roberto Berliner, conseguiu montar um filme de forma até que um pouco documental, pois vai nos apresentando os personagens através de suas histórias e não diretamente como costumam fazer em ficções, e acredito que isso possa até ser um mérito de o longa acabar não ficando chato demais, já que os recortes dinâmicos, um pouco exagerados lembrando as vezes aqueles vídeos de festa de casamento com a quantidade de janelas, acabam nos envolvendo com tudo que vai ocorrendo.

As atuações acabam sendo divertidas, mas novamente a protagonista Lilia Cabral levou um filme nas costas, colocando todo seu carisma pra fazer trejeitos faciais e interpretações dinâmicas para seu texto agradar e nos convencer de tudo que faz no longa. Fiuk encaixou bem no papel de adolescente drogado, afinal não aparenta ser nem um pouco responsável e aparentou estar até ter dado um toque pessoal ao personagem que acabou agradando bastante visualmente, porém poderia ter diálogos melhores para ele. Carolina Dieckman também faz um papelzinho que mostra toda a apelação sexual que o diretor quis implementar no filme com closes nos seus dotes avantajados apenas, de modo que até o fim do filme ficamos na dúvida se realmente o diretor queria apenas isso dela, mas teve pelo menos um final encaixado. Augusto Madeira acaba fazendo oras o papel de bobo, ora tentando ter uma relação fervorosa com Dieckman, mas é dele as cenas mais cômicas do filme, então soube administrar bem seus trejeitos, fazendo bem seu papel. Agora poderiam ter dado mais chance para destacar Leandro Firmino da Hora que faz um traficante muito fora dos padrões e seria divertidíssimo seu papel em outros planos, a cena sua com a protagonista lhe chamando pelo nome de seu personagem mais famoso é perfeita. Dos demais policiais e pessoas que aparecem não dá para dar destaque nenhum, pois todos fazem ao menos uma besteira frente a câmera olhando para onde não deve.

O visual da trama é um dos pontos fortes por trabalhar bem na concepção cenográfica de cada um dos lugares, colocando a casa da família com todos elementos bem montados para nos mostrar que os apartamentos familiares tradicionais possuem coisas bem graciosas para mostrar. A favela é bem representada, a delegacia também ambos com bons elementos cênicos e até o local para dar fim em alguns meliantes acabou sendo bem retratado, ou seja, produção de arte impecável. A fotografia não abusou de muita firula para agradar, reforçando apenas a luz nos pontos mais escuros para que a claridade ficasse sempre abrangente mesmo nas cenas que tinham apelo mais escuro, e usou de tons cotidianos sempre puxando no brilho, então nada que pudéssemos destacar nesse quesito. A equipe de efeitos especiais exagerou um pouco nas cenas finas de tiro, afinal os calibres de revólveres não fazem todo aquele estrago, alguns pedaços de parede chegam a voar, então poderiam ter economizado um pouco nos explosivos, tirando isso nada demais para negativar.

As trilhas sonoras usadas nas cenas de dança da personagem Madalena foram um pouco forçadas, afinal o personagem é forçado, mas no geral poderíamos dizer que o longa se passa nos anos 2000 pela escolha das músicas.

Enfim, não é um filme que vá levar milhares de prêmios nem será a comédia nacional mais engraçada que já vi, mas ao menos como disse diverte bastante pelo carisma dos personagens e pela boa produção de arte. Não posso dizer que recomendaria o longa com todas as letras, mas se você quer conferir um filme nacional dos que estão em cartaz, essa é a opção menos desastrosa, claro que evite levar crianças, já que a quantidade de palavrões nos diálogos é de um primor imenso. Bem é isso pessoal, fico por aqui agora, mas ainda falta a última estreia que teve aqui nessa semana e claro que não deixaria ela para trás, aliás seria pecado, então abraços e até mais tarde.


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