Trapaça

2/08/2014 08:40:00 PM |

Alguns filmes que são aclamados pelos americanos costumam chegar aqui e lotar salas, afinal o público brasileiro adora ver coisas que são sucesso lá na terra do tio Sam. Mas o que vi hoje na sessão de "Trapaça" foi a mesma sensação que tive ao ouvir de um grupo de pessoas, nossa que filme chato. Já está ficando piegas Hollywood querer mostrar crimes de colarinho branco a todo momento, e se não for bem montado, um roteiro pode acabar ficando monótono demais para ser engolido pelos outros países que aceitam suborno e troca de dinheiro por interesses, que é o grande lance do filme além do visual tão preocupado com o cabelo dos protagonistas. E o resultado são quase 3 horas de armações para prender figurões que simplesmente são jogados num tabuleiro de intrigas entre os próprios protagonistas que se não fossem excelentes na interpretação deixariam o longa mais chato ainda do que foi.

O filme nos conta a história do malandro Irving Rosenfeld que, junto com sua sócia e amante Sydney Prosser, são forçados a colaborar com Richie DiMaso, um agente do FBI que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia. Ao mesmo tempo, o trio também se envolve na política do país, através do candidato Carmine Polito. Tudo parece ocorrer bem, até que a esposa de Rosenfeld, Rosalyn, decide aparecer e mudar as regras do jogo.

A história do longa poderia ser mais interessante se tivessem optado por menos subtramas e focado apenas em um ou outro político, talvez na máfia comandada por De Niro que só aí já renderia uma boa cartada, mas ao misturar tudo o longa ficou longo demais e como disse no início estamos acostumados que poderosos no Brasil acabam impunes por crimes de sonegação, suborno e ajudinhas extras para que algo dê certo, mas nos EUA isso é algo que eles não perdoam de maneira alguma e gostam de mostrar sempre a ação do FBI desmontando as pessoas. O diretor e roteirista David O. Russel conseguiu traduzir essa rede de intrigas de uma forma cansativa, pois ele tenta mostrar a pilantragem do grupo, mas sempre com o personagem de Cooper ele tenta voltar para o lance da criminalística e com isso o filme não deslancha. Claro que temos momentos bem divertidos e cheios de sacadas inteligentíssimas, principalmente provenientes dos grandes atores que usam de tudo ao seu redor para transformar o longa em algo melhor, mas eles conseguem pelo menos fazer com que ao sair da sala não quiséssemos matar eles mas apenas o diretor.

Falando nos atores, o elenco é incrível e conseguiu mostrar como se deve fazer para chamar a atenção na cena que é sua, pois se dividirmos o longa em 4 partes exatas, cada uma delas é de um dos protagonistas e eles se colocam a frente até mesmo dos outros para clamar nossos olhares. A primeira parte é praticamente toda de Amy Adams que até tenta passar a bola um pouco para seu companheiro de cena, mas ela domina tanto que até tentam nos enganar mostrando a barriga gorda do Batman para tirar a concentração que ficamos ao ver o diálogo e a pontualidade das falas que a atriz consegue eximir, é uma pena apenas que o filme trapaceasse tanto com ela tirando seu foco em diversos momentos, pois aí não teríamos dúvida alguma de que levaria todos os prêmios desse ano. A segunda parte vem a dominação teatral e carismática de Christian Bale que pode ser estudado como um case de sucesso de dietas tanto para engorda, como para emagrecimento, quanto para obter músculos, pois aqui ele está com uma barriga de cerveja que muitas mulheres iriam reclamar com certeza, além de uma careca muito bem trabalhada, mas iremos falar disso mais pra baixo, e aqui só temos que falar que mesmo tendo uma parte só sua para destacar e mostrar com exímia perfeição que não é a toa um dos melhores atores de Hollywood que sabe ser tão canastra quanto qualquer um dos vilões que já enfrentou. O terceiro momento é de Bradley Cooper com seus cachinhos no cabelo que deixou ele quase irreconhecível, mas não sua atuação forte e bem encaixada para com um policial que só quer aparecer mais do que tudo e faz o que der na telha para conseguir isso, mostrando um lado do ator muito bem encaixado para o que vier pela frente que muitos nem imaginavam que ele tinha. E o quarto momento vem com Jennifer Lawrence mostrando que a cada filme seu vale o cachê que cobra, pois é muito boa no que faz colocando toda sua interpretação na ponta certeira para transformar seu personagem coadjuvante em quase protagonista. Jeremy Renner vem a parte fazendo boas cenas e principalmente sua última cartada mostrando que é um excelente ator e manda bem também quando precisa, prefiro seus momentos de ira do que passando o lado bonzinho de ser. Louis C. K. é outro que vale destacar pelos momentos hilários que faz frente à Cooper e soube dominar a cena junto dele. E pra fechar o quesito atuação, Robert De Niro faz uma participação bem simplória, mas que é o momento de maior risada pelo que faz acontecer, ou seja, como sempre faz valer suas aparições.

O quesito visual do longa já mostra a que veio logo na abertura do filme com as logomarcas das produtoras como eram na época em que se passa o filme, e logo na sequência já nos deparamos com um elemento cênico que faz mais parte do figurino do que tudo, a composição dos cabelos da época que mesmo os mais carecas conseguiam fazer cabelões arrumadíssimos com as técnicas mais impressionantes de imaginar. O figurino e a maquiagem são peças tão importantes que chamam muito mais atenção que qualquer outro elemento cênico que tenha sido usado em cena, claro que tirando a introdução do forno científico como chamam o microondas na história. E tudo isso agraciado por uma fotografia bem puxada para o sépia em diversas cenas deixaram o longa chamar atenção em alguns detalhes que poderiam ser geniais caso o roteiro tivesse sido um pouco mais lapidado.

Outro ponto que clama nossa atenção foram as canções escolhidas na medida para representar a época e colocar na agulha uma trilha que os amigos que gostam de música dos anos 60-70 vão vibrar muito em conferir ela completamente depois de assistir o longa. E ela se encaixa tão bem com tudo que passa a ser um elemento imprescindível para agradar certos momentos.

Enfim, poderia ser um filme grandioso e genial, mas que devido a falta de lapidação acabou se tornando mais cansativo do que agradável. Vale ser conferido pelas ótimas atuações e elementos técnicos que disse acima como as músicas, figurino e maquiagem, mas que se perdeu completamente na história e na direção que é onde deveriam ter acertado mais para que o filme fosse tudo que tanto falaram. Recomendo ver ele com essas ressalvas, pois quem for assim como a maioria lotar os cinemas apenas devido à tonelada de indicações e até prêmios que andam levando, a chance de decepção por aguentar quase 3 horas de falcatruas sem muito dinamismo é capaz de reclamar e muito do que verá. Fico por aqui hoje, mesmo indo conferir mais um ainda nessa noite, mas escreverei amanhã durante o dia, então abraços e até lá pessoal.


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