Álbum de Família

12/28/2013 12:16:00 PM |

Se você gosta de um filme bem dialogado e curte ver aquelas brigas de família onde um vai alfinetando o outro, até o barraco ficar completo, "Álbum de Família" é o seu filme sem nem pensar. Junte a isso um elenco estelar onde nenhum consegue fazer menos do que uma chance para ser indicado a qualquer prêmio. Eu no lugar da equipe para escolher quem colocar como indicado pra cada prêmio surtaria fácil, mas Meryl Streep e Julia Roberts são hors-concours e com 10 minutos de filme Meryl já levantou seu homenzinho dourado e disse sai da frente que já limpei a estante pra caber mais um, e ainda teríamos mais 109 minutos para que ela humilhasse todas as demais concorrentes. Tudo bem que posso estar exagerando um pouquinho, mas assim como tivemos em 2010, "O Discurso do Rei", com um filme inteiramente dialogado que desbancou grandes nomes do ano, se os concorrentes não fizerem o dever de casa direitinho para ganharem votos, esse é o filme que pode comer bem pelas beiradas, mesmo sendo bem cansativo no início.

O filme nos mostra que Barbara, Ivy e Karen são três irmãs que são obrigadas a voltar para casa e cuidar da mãe viciada em medicamentos e com câncer, após o desaparecimento do pai delas. O encontro provoca diversos conflitos e mostra que nenhum segredo estará protegido. Enquanto tenta lidar com a mãe, Barbara ainda terá que conviver com os problemas pessoais, com difíceis relações com o ex-marido e com a filha adolescente.

A sinopse dessa vez faz uso exatamente do seu significado e resume o filme exatamente como ele é sem tirar nenhuma vírgula, claro que não coloca em pauta todo o ótimo trabalho do elenco, mas o diretor soube trabalhar exatamente como funciona a peça de Tracy Letts que deu origem ao roteiro, também assinado por ele, e que ganhou dois dos maiores prêmios do teatro mundial, deixando nas mãos ou melhor, na oratória de ótimos atores para que desenvolvessem tudo que sabem melhor fazer, ficando fácil apenas orquestrar a posição de câmera e o melhor ângulo para que o circo pegasse fogo de maneira clara e visível para todos. Como sempre temos várias pessoas em cena, o diretor vem com seu segundo longa com a maioria dos planos bem abertos para que o desenrolar seja visto frente a face de todos em cena e não apenas dentre os envolvidos, e assim com certeza sem um elenco bem treinado o filme passaria de poucas horas de gravação para meses, pois o erro fica muito fácil de ocorrer. Mas como o orçamento foi de apenas US$ 25 milhões, acredito que com todo esse elenco foi bem rápido de fazer o filme. Um único porém que faria pessoalmente seria terminar na cena da Meryl sem precisar mostra a cena seguinte com Julia, o que felizmente não acaba com o clímax construído dando apenas uma nova percepção para tudo que está ocorrendo em sua vida.

Já que só falo do elenco, vamos ao parágrafo deles, pois o filme não existiria sem a metade dos que estão aqui. Meryl Streep já ganhou 3 Oscar com mérito pelo que faz, a atriz adentra seus personagens e só sai deles sendo arremessada abaixo, ou melhor nem assim, pois o que faz aqui até vai pro chão numa briga com sua filha e não perde o papel de jeito maneira, e além disso sua equipe própria de maquiagem sempre arrasa, suas cenas (#momentospoiler sem a peruca) é de uma impressão espetacular do quão boa a atriz consegue ficar diferente visualmente de cada filme que faz, mas sem perder sua maior qualidade que é a atuação de primeira linha. Julia Roberts deve correr por fora como melhor coadjuvante, já que encarna com cerne um papel que encaixa bem e mostra sua idade "real", utilizando também de feitos com a maquiagem aliado aos seus ótimos diálogos, seus dois momentos de estouro são geniais. Sam Shepard faz uma boa introdução para o filme e agrada nos seus poucos momentos, mas não teve tanta repercussão. Julianne Nicholson é uma atriz que não conhecia muito, pois é mais vista em séries e aqui faz seu papel com coerência, tendo uma grande surpresa para seu personagem em duas grandes viradas que faz no seu próprio roteiro, ou seja, trabalhou bastante para mudar duas vezes de expressão, e fez isso muito bem. Juliette Lewis não mostrou muito sua atuação característica e faz apenas um papel mediano no meio das grandes atuações, e ainda assim consegue ter uma cena sua para ser lembrada, então pelo menos valeu o cachê. Ewan McGregor também trabalhou bem em suas cenas, fazendo tudo para que seus momentos fossem lembrados, e suas três discussões são feitas em nível perfeito para o ator mostrar a que foi chamado. Chris Cooper é um mestre de diálogos pontuados e aqui recita eles com um charme, e mesmo no seu momento de estouro ainda consegue manter a classe, perfeito. Margo Martindale faz aquela tia que todos temos, com seus segredos e do mesmo gênio forte que a matriarca da família consegue pontuar suas cenas de forma a bater forte sem deixar marcas. Benedict Cumberbatch faz um pequeno papel e também tem seu momento para marcar quadro, conseguindo chamar pelo lado fofo de sua canção e seus momentos que "dialoga" com sua mãe. Abigail Breslin já fez aula com Nicolas Cage e começa a aparecer por aqui toda semana com um filme novo, e faz o típico papel de adolescente só tendo seu grande momento mesmo sendo piada na mesa e na sua cena final com Dermot Mulroney. E já que falei de todos presentes na casa, porque não fechar com a cena de Misty Upham que mesmo falando praticamente nada consegue comover e dar sentido à várias cenas.

Por ser 100% pautado na peça, o longa fica praticamente inteiro dentro da casa, afinal assim economizaram com locações e também com detalhamento de cenários, já que bastou fazer uma casa tradicional do Oklahoma e com isso caracterizar todos os personagens com figurinos tradicionais e assim encaixou perfeitamente a trama com tudo que teria de dizer, sem gastar mais dinheiro do que foi pegar as grandes estrelas, e pra quem acha que isso deixou o longa pobre vai acabar vendo que muito pelo contrário, pois cada elemento, por mínimo que seja, acaba tendo uma grande participação para que o filme diga o que necessita nas cenas em que aparece o elemento marcante. A fotografia trabalhou com tons mais escuros e puxados para o marrom, já que estamos num clima fúnebre e numa cidade muito quente e seca, então caiu bem a tonalidade escolhida para que os planos se encaixassem bem.

A trilha sonora escolhida ficou muito bem pautada por Gustavo Santaolalla ao escolher canções de Adam Taylor e Kings of Leon, dando um ritmo estranho que poderia até ser mais dinâmico para que o início e o miolo andassem um pouco mais rápido, mas como o filme é dialogal extremo, elas entram apenas de segundo plano para dar cadência e não velocidade para a trama.

Enfim, é um filme bem interessante, que não vai ter meio termo nas opiniões, ou a pessoa adora filmes de diálogos e vai gostar muito do que verá, ou a pessoa prefere filmes com mais ação e se entediará ao extremo mesmo tendo excelentes atuações. Esse é o maior problema do filme, não ser feito para todos gostarem, e assim sendo ele chama a atenção das premiações que adoram o diferenciado. Eu particularmente adorei, principalmente estou na torcida para Meryl levar seu 4° Oscar, o que acho dificílimo por questões políticas, mas recomendo com certeza colocando apenas a ressalva do ritmo que é um pouco lento. Fico por aqui hoje, mas essa semana ainda está recheada de pré-estreias e mais uma estreia para conferir, então abraços e até mais tarde pessoal.

 

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