Capitão Phillips

11/03/2013 02:11:00 AM |

Existem situações que passam mil coisas em sua cabeça e ao mesmo tempo você não consegue pensar no que fazer. Uma delas é estar em posse de sequestradores e quem já passou por isso, ou ao menos consegue imaginar bem como é, irá sentir algo bem próximo do que o protagonista do filme "Capitão Phillips" conviveu nas suas horas em posse dos piratas somalis em sua embarcação. É um filme completamente tenso, onde tudo pode ocorrer, e principalmente, baseado no livro do próprio Richard Phillips sobre como tudo aconteceu, ou seja, fatos reais.

O filme nos mostra que Richard Phillips é um comandante naval experiente, que aceita trabalhar com uma nova equipe na missão de entregar mercadorias e alimentos para o povo somaliano. Logo no início do trajeto, ele recebe a mensagem de que piratas têm atuado com frequência nos mares por onde devem passar. A situação não demora a se concretizar, quando dois barcos chegam perto do cargueiro, com oito somalianos armados, exigindo todo o dinheiro a bordo. Uma estratégia inicial faz com que os agressores recuem, apenas para retornar no dia seguinte. Embora Phillips utilize todos os procedimentos possíveis para dispersar os inimigos, eles conseguem subir à bordo, ameaçando a vida de todos. Quando pensa ter conseguido negociar com os piratas, o comandante é levado como refém em um pequeno bote. Começa uma longa e tensa negociação entre os sequestradores e os serviços especiais americanos, para tentar salvar o capitão antes que seja tarde.

Bom, a sinopse já explica o filme inteiro sem mistério algum, mas isso não é nenhum problema, afinal o que vemos na tela é como isso tudo se desenvolve de forma brilhante, intensa, bem dirigida e principalmente com atuações magníficas do grupo principal e olha que tirando Tom Hanks, o restante em sua maioria nunca atuou, ou seja, o diretor Paul Greengrass poderia facilmente entrar pro hall seleto de diretores que pegam pessoas inexperientes e transforma em elenco forte e dramático. Do roteiro em si, o que podemos observar é que adaptaram mais as coisas que ocorreram fora do ponto de vista do protagonista, que acabam sendo até grandiosas demais, afinal é um filme americano que tem de valorizar a atuação da Marinha americana, mas quando entramos nas cenas onde o protagonista tem sua observação, podemos dizer que foi exatamente daquele jeito que tudo aconteceu, e isso mostra uma força imensa, tanto que é necessário se segurar para não chorar junto com o protagonista no fim, afinal ali o drama vai no ponto mais fundo de uma pessoa. Quanto do que o diretor faz com sua câmera é trabalhar imensamente nos semblantes dos personagens, com muitos closes, apertando ainda mais o espaço pequeno da embarcação, colocando alma em tudo que pode ser trabalhado, de uma forma única, e como disse, na grade principal só temos 1 ator realmente e outros 4 que são pessoas comuns, então o trabalho de Greengrass é mais do que perfeito.

A forma verdadeira que Tom Hanks incorpora para o seu personagem vai remeter muito ao que fez em "Náufrago", mas em 13 anos sua vivência com certeza melhorou muito, e o que faz no miolo do filme e principalmente nas últimas cenas, é de uma realidade ímpar e demonstra que mais uma vez pode ser facilmente indicado aos diversos prêmios que devem iniciar. Barkhad Abdi era apenas um motorista quando foi selecionado para um teste para o filme mesmo sem ter nenhuma pretensão em ser ator, e o que consegue transmitir em cena são trejeitos faciais que muitos atores que até já levaram prêmios por aí não conseguem fazer nem de longe, e por isso merece muito mais do que simples parabéns da equipe do filme, podendo facilmente se quiser trabalhar em diversos outros filmes que continuará agradando. Os demais somalis também foram muito bem, principalmente enfocando que nenhum era ator originalmente antes do filme, então friso que deve ter sido um trabalho extremamente árduo para o diretor conseguir tirar toda essa dramaticidade deles, mas no final o trabalho compensou muito, além do destaque que dei para Abdi, vale também realçar que o sangue nos olhos de Faysal Ahmed é perfeito para a trama. Dos demais tripulantes da embarcação praticamente nenhum teve grande destaque interpretativo, visto que todos acabam fugindo de cena na maior parte do longa, e raramente possuem diálogos que acrescentasse algo para a trama, mas nem por isso fizeram feio quando estão enquadrados, muito pelo contrário, sempre estavam com pavor do que estava acontecendo e se defendendo como podiam. O mesmo posso dizer da equipe da Marinha que apenas negocia e faz bem o serviço do jeito que é tradicional nas tropas armadas, ou seja, quando chega a artilharia de peso, o bicho vai pegar e ponto final, então o destaque é visto muito pouco na interpretação deles, já que tudo segue o padrão e isso já é mais do que agradável.

A equipe de arte com muita certeza trabalhou demais para dar fidelidade a trama, afinal trabalhar com embarcações do porte que aparecem no longa é algo que se economizaram com não atores, gastaram quantias exorbitantes utilizando navios o mais próximo que podiam para os planos mais abertos, afinal nas cenas fechadas, até podem ter construído algo em estúdio, mas para ficar no nível real que temos, trabalharam muito bem. Então esse será mais um dos longas que desejarei ver os bastidores para saber como trabalharam. E falando assim, já é notável como gostei da ambientação que fizeram tanto para deixar o ambiente mais apertado para que a cena ficasse claustrofóbica quanto nos lugares maiores, utilizaram de diversos elementos cênicos para que ficasse o mais real possível, agradando demais em tudo no quesito artístico. A fotografia também trabalhou bem coordenada para que nas cenas mais escuras, a iluminação ficasse perfeita somente com as luzes de lanternas, ou então com a iluminação lunar, e com isso a tensão aumentasse ainda mais.

Um bom drama também deve contar com trilhas marcantes, onde a pontuação instigue mais ainda o espectador, e em muitos casos até aumente o clima tenso que o diretor propõe para a trama, e utilizando dessa ideologia, Henry Jackman mostra mais uma vez que é um dos grandes nomes da vez, visto tudo que tem feito ultimamente. E além disso, a entonação que coloca auxilia o filme de 134 minutos ficar para alguns bem menor, e para outros que se sentirão presos, parecer quase uma eternidade esse tempo.

Enfim, acredito que o longa mereça ser lembrado nas premiações, mas estão apenas começando a aparecer os possíveis candidatos, então tudo é questão de gosto como costumo falar. O longa em si é forte e tenso, e isso já faz valer no mínimo que o público vá assistí-lo numa tela grande na semana que vem quando realmente entra em cartaz nos cinemas, mas estarei torcendo pelo menos para que Tom Hanks ganhe uma lembrança nas indicações, e quem sabe Greengrass também. Fico por aqui hoje, mas ainda temos mais uma estreia para conferir nos cinemas, além claro da Itinerância da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo que começa terça-feira aqui em Ribeirão Preto, então aguardem que a semana ainda estará cheia de posts por aqui. Então abraços e até bem breve pessoal.


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