Blue Jasmine

11/17/2013 01:34:00 AM |

Existem algumas perguntas em minha mente as quais não gostaria de responder, uma delas é até que ponto vale idolatrar um diretor mesmo que ele não faça um filme genial sempre? Pois bem, sabemos que Woody Allen apresenta praticamente um novo filme dirigido por ele por ano desde quando começou a dirigir em 66, falhando apenas em 67, 68, 70, 74, 76 e 81, então não podemos esperar que todos sejam grandes obras de arte, claro que o que vemos em "Blue Jasmine" é seu tradicional texto recheado de bons diálogos, onde os protagonistas mostram toda sua capacidade de atuar, mas está muito longe das grandes obras que já fez, sendo algo bem mediano para dizer a verdade.

O filme nos mostra que Jasmine vive na alta sociedade em Nova York. Sua vida muda completamente quando ela separa-se do marido e perde todo seu dinheiro. Com isto ela é obrigada a ir morar com sua modesta irmã em São Francisco. Agora, distante de seu luxuoso universo, Jasmine precisará reorganizar toda sua vida.

A forma desconstruída do roteiro, indo e voltando com a loucura que a protagonista tem em sua mente ao juntar os fragmentos de tudo que ocorreu ao ouvir algo à respeito do momento é bem interessante, e agrada por não termos um filme retinho. Mas faltou definir pra que lado o diretor resolveria atacar, ficando bem no meio termo entre drama e comédia, não cumprindo nenhuma das duas metades. Não vou falar que não existem momentos cômicos, mas é um humor tão simplório que fica difícil ficar feliz. Além disso, o diretor optou por querer mostrar que muitos vivem de aparências em algumas cenas, e com isso chega a ser até uma dura crítica a sociedade atual que é fã de seus filmes, então é quase raro não enxergar o incômodo que causa em alguns espectadores, ou seja, atingindo o que gostaria. E embora tenha um ritmo até acelerado, acaba cansando pelo fator da indefinição, pois parece perdido em meio a tantos tiros no escuro.

Agora se tem uma coisa que não podemos reclamar nunca dos textos de Woody Allen é o favorecimento que dá para que seus atores se destaquem, e a prova disso está na desconcertante Cate Blanchet que em certos momentos parece ter sofrido uma abdução extraterrestre, onde sua loucura parece quase explodir e solta textos imensos rumo ao vento pelo olhar perdido que está, e isso não é ruim de forma alguma, pois mostra a ótima interpretação que faz da loucura o seu próprio personagem, diga-se de passagem preferiria que ela ficasse off assim o filme inteiro que seria muito mais rico. Sally Hawkins está perfeita ao mostrar um personagem que ao mesmo tempo é desesperador por só arrumar perdedores como diz a irmã, e feliz por mostrar que gosta de ser desse jeito, não precisando de um status para que sua vida seja agradável, então seus trejeitos oscilam muito nos dois momentos em que passa, sempre procurando manter uma felicidade estampada no rosto. Alec Baldwin participa apenas desses momentos de flashback e geralmente faz sua tradicional interpretação de empresário rico e galanteador que estamos acostumados a ver em milhões de filmes, então não agrega valor quase nenhum à trama. Os maridos de Sally, Bobby Cannavale e Andrew Dice Clay agradam tanto pela canastrice que passam ao serem exóticos demais, quanto pelas boas atuações que fazem nos devidos momentos, claro que Bobby tem mais participação e com isso até mesmo um choro mais falso impossível consegue agradar. Os demais atores até fazem bem seus personagens, mas todos acabam sempre sendo caricatos ao estarem presentes apenas para dar a deixa para as protagonistas, destacando apenas a investida maluca de Michael Stuhlbarg e a forma calma que Peter Sarsgaard faz nos seus momentos.

O visual de São Francisco não é dos mais charmosos que Woody Allen já filmou, mas tem o seu carisma pessoal ao retratar bem tanto as áreas e pessoas mais estranhas do lado pobre, quanto a riqueza que alguns podem ter, além de mostrar a Nova York dos riquíssimos para dar o oposto completo das vidas que a protagonista passa durante sua trajetória. O mais interessante é ver que as realidades mostradas acabam acontecendo de certa forma costumeira de se ver, por exemplo aprender computação quando mais velho, ir a trabalhos menores mesmo depois de ser muito rico em alguma época e até aprender a conviver com pessoas que não estava acostumada, e isso o diretor utiliza muito dos elementos cênicos proporcionados pela equipe de arte, o que acaba agradando bem. Podemos dizer que nesse filme Woody nem deu trabalho para a equipe de fotografia, pois usando praticamente só a luz natural do ambiente não relevou nada para dar alguma grandiosidade ou para chamar atenção para algo, mas mesmo assim temos bons ambientes que foram retratados em sua maioria em planos abertos e assim valorizaram o que era mostrado pelo menos.

Enfim, é um bom filme, mas não chega nem perto dos últimos excelentes filmes que Woody fez. Fui sedento demais ao pote esperando que surgisse um novo "Meia Noite em Paris" e vi algo mais próximo de "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos" que não é genial, mas é bonitinho pelo menos. Recomendo à todos que forem assistir, que não assistam o longa cansados, pois a chance de dormir é alta, ainda mais se for em uma sala mais confortável. Agora é aguardar se o filme de 2014 dele voltará a ser algo que valha a pena ou se começou mesmo a decair na qualidade. Fico por aqui, mas ainda nesse domingo confiro mais um longa da Itinerância da Mostra, então abraços e até mais tarde.


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