Era uma vez eu, Verônica

4/03/2013 01:27:00 AM |

Essa semana você que me acompanha talvez estranhe a quantidade de filmes autorais que irei comentar aqui, mas como teremos o Festival SESC Melhores Filmes, como sempre acontece, haverá muitos filmes diferenciados que irão passar junto de grandes nomes, e por vez os brasileiros que não costumam passar em circuito comercial aparecem pelo interior. Dito isso, vamos falar sobre o filme que abre o Festival nessa quarta-feira (03/04/13), "Era uma vez eu, Verônica" que por sorte veio também no Cinecult, então já conferi nessa terça para deixar preparado aqueles que forem conferir a sessão gratuita logo mais às 20 horas no Cinépolis. O filme irá trabalhar com as desilusões que vive uma jovem que acaba de encerrar sua faculdade de medicina e acontece aquele momento que muitos já passamos que é a dúvida de tudo que vem pela frente, o que somos, o que queremos, etc. E com essas indagações ele reflete toda uma auto psicanálise tanto com a protagonista quanto com o espectador que irá assistir ao filme. Pode ser visto de duas formas, e aqueles que optarem por ir preparados e armados, já sabendo que se conhecem é capaz de achar o filme horrível, enquanto aqueles que tiverem dúvidas poderão sair refletindo sobre o filme e sobre o seu próprio eu e adorar.

A sinopse nos mostra que Verônica tem 24 anos e acaba de terminar o curso regular de Medicina. Mora com o pai, José Maria, muito mais velho que ela. A mãe morreu quando ela era ainda pequena. A casa é cheia de discos de vinil antigos. No momento, Verônica não tem mais tempo para discos, para cantar músicas ou mesmo para noitadas com as amigas, pois trabalha em um ambulatório de Psiquiatria de um hospital público. Em uma dessas noites de volta para casa, Verônica, já cansada de tanto ouvir problemas alheios, decide usar o gravador, fiel companheiro das provas da faculdade, para narrar, em forma conto de fadas, os próprios problemas. E começa: Era uma vez eu, uma jovem, brasileira...

A forma de condução que o diretor e roteirista do filme Marcelo Gomes optou por retratar a mente e o corpo confuso de Verônica pode parecer confuso, mas como já vamos assistir filmes autorais, ou preparados para ver aqueles que nos fazem pensar num mote e ficam girando sem dar respostas ou filmes que enfiam goela abaixo algum ideal e somos obrigados a aceitar, podemos traçar uma forma mais tranquila de assistir o filme que fica mais próximo da primeira ideologia, de girar, girar e ficar apenas dando ideias sem que nos seja passado algo mais forte. Não reclamo disso, pois como disse no início é bacana você que também saiu de uma faculdade e não sabe que rumos seguir, como será sua vida e tal, mas eu prefiro filmes que nos ataque mais forte e dê um fechamento, podendo muitas vezes até ser medíocre, mas pelo menos o diretor nos dá sua opinião sobre o assunto, e o que temos aqui é que o diretor apenas expôs que Verônica tinha muitas dúvidas e gostava de se sentir solta, fazendo sexo para relaxar e somente assim limpar sua mente dos problemas, mas fica apenas nisso, ele nos dá o problema da garota, como ela faz, e só, fica a nosso cargo discutir se ela amadureceu, se ela vai ser sempre assim, se, se, se... O que para alguns será genial e para outros ficarão revoltados com o tempo perdido dentro de uma sala de cinema. Prefiro opinar que esperava uma resposta do diretor, mas no geral me agradou por ir assistir sabendo que veria isso.

No quesito atuação, Hermila Guedes mostra novamente que não liga de ficar nua em filmes e sabe-se bem porque, afinal a moça tem um senhor corpaço e para o filme estar nua pode se representar pelo roteiro que somente assim ela consegue liberar seus ideais, seus problemas, e quando coloca uma roupa seu corpo se fecha juntamente com sua mente, e isso é bem bacana pois a atriz conseguiu passar muito bem essa ideia, que podemos ligar logo de inicio com uma de suas primeiras consultas. W.J. Solha está muito bem de um pai introspectivo e doente que consegue ajudar a protagonista a ficar presa no seu mundo, sua atuação beira a perfeição se não fosse por alguns momentos que os diálogos são um pouco fora da conjectura normal que uma pessoa falaria, ficando irreal, mas tirando isso uma excelente atuação. As demais participações do filme não ajudaram também muito a melhorar o que tínhamos, mas também não conseguiram piorar nada.

A arte do filme é um pouco confusa, de forma que vemos exatamente a impressão que o diretor quis colocar como um filme sujo e de imagens bagunçadas assim como a mente da protagonista. Isso como arte é belíssimo, mas como cinema normal, tirando de festivais é algo que incomoda e em certos momentos até choca. Pra mim não foi tanto incômodo, como disse já estou acostumado, mas pensando no que o público irá pensar, podemos ter problemas de entendimento maior. Porém para tentar suprir um pouco essa falha visual, o diretor acerta a mão com Mauro Pinheiro Jr. na fotografia, que tenta capitar de forma simbólica tudo que o diretor queria expressar, e com isso ele trabalha bem nas cores e filtros para deixar o carnal/vermelho como ideias fluindo e o branco/sujo como ideias confusas, o que é geralmente o contrário de tudo na vida, mas ficou muito bacana de ser visto.

A trilha sonora bem regionalizada do Recife mostrada através da cantora Karina Buhr ou mesmo de vinis tocados com todo seu chiado delicioso de escutar com canções típicas serviu de base para cada momento da protagonista, muitas vezes falando até mais do que os próprios diálogos.

Enfim, como disse é um filme completamente autoral feito exclusivamente para festivais e sessões mais Cult que irá mexer um pouco com a cabeça do espectador. Como falei também já algumas vezes, filmes autorais são feitos de forma que não se pensa em agradar o espectador final, ou seja, muitos irão odiar o que verão na tela do cinema. Porém mesmo assim, embora não tenha gostado tanto do filme, recomendo como um dos melhores desse gênero de rodar e não sair do lugar, tanto que ganhou o Festival de Brasília, então quem for de Ribeirão Preto, vá conferir hoje no Festival do SESC às 20 horas no Cinépolis, é gratuita, então a chance de decepção nem irá incomodar. E praqueles que não conseguirem ir e quiser ver continuará na próxima semana no Cinecult do Cinemark às terças e quintas. Fico por aqui hoje, mas na quinta estou de volta com mais filmes do Festival SESC Melhores Filmes. Abraços e até breve.


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