O Voo

2/09/2013 03:59:00 PM |

Alguns filmes seguem uma linha de tensão tão forte e intimista, que em alguns momentos conseguem nos por quase como personagens dele fazendo com que ficássemos torcendo ou reclamando de algum personagem do longa fazer algo. Isso que descrevi, acontece muito em novelas e séries, mas em "O Voo" temos algo bem semelhante que nos faz quase virar o manche do avião junto com Denzel Washington e torcer contra certos atos desfavoráveis ao personagem em quase toda a duração do filme.

A história nos mostra que Whip Whitaker é um experiente piloto de avião, que por milagre aterrissa sua aeronave depois de uma catástrofe em pleno ar, salvando quase todos os passageiros a bordo. Depois do acidente, Whip é considerado um herói, porém, na medida em que mais fatos se tornam conhecidos, mais perguntas do que respostas surgem sobre quem ou o quê realmente estava errado e o que, na verdade, aconteceu naquele avião.

O que John Gatins("Gigantes de Aço") escreveu para esse longa é algo em que tudo pode ser contraditório de forma a deixar furos ou pontas soltas, mas que ao cair nas mãos de Robert Zemeckis("Náufrago","Forrest Gump", entre outros) soube dirigir de forma perfeita a nos colocar não apenas como espectadores, mas sim como opinadores das decisões que o protagonista toma, pois muitas vezes nos é posto a pensar que mentir sobre algo pode ser bom, mas acarreta outros problemas, e com isso vamos cada vez mais ficando quase amigos íntimos de Denzel querendo que ele faça determinadas coisas e não outras. Claro que tudo isso é apenas um dos pontos do excelente filme, pois toda a trama está colocada para que o filme caminhe sozinho sendo contado até o grande deslanchar final que é muito interessante.

A atuação de Denzel Washington que lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar é 100% válida, visto que seu personagem possui momentos estão todos no limite do certo e do errado, e a interpretação que ele soube colocar na trama como disse acima nos faz parecer que já conhecemos Whip Whitaker, que poderíamos estender a mão para ele e ajudar, mas embora ele nos convença a isso, ele termina o longa com uma frase que nos diz realmente o inverso e fecha com chave de ouro o que quis mostrar. Kelly Reilly tem momentos bons na trama, mas não diria que está perfeita, pois como seu personagem é apenas uma chamada para que o protagonista tente ajuda e tenha o final que tem, ela nos conduz de uma forma forte no início e vai caminhando levemente para um personagem bem secundário na tela, mas o que vemos ao final é que seu personagem tinha um grande valor para a trama toda e claro se o filme fosse brasileiro e virasse uma série daqui três meses, com certeza teríamos um personagem bem mais trabalhado na série do que no filme. Don Cheadle e Bruce Greenwood são pontas interessantes de ver trabalhando, mas como suas falas são sempre envolvidas com sindicato e advocacia, acabam tornando um pouco monótonas suas participações em tela, sempre ficando bem abaixo do que Denzel faz quando está junto com eles. Melissa Leo também é outra que aparece bem pouco no filme, mas seu momento final é daqueles que todos param para ver o que está acontecendo. Agora outro grande nome do longa é John Goodman que já pode ser considerado o carisma do ano no cinema, e se tivéssemos no Oscar o prêmio igual tem nos concursos de Miss Simpatia, o prêmio com certeza seria dele, pois nas duas aparições que vi(irei conferir "Curvas da Vida" essa semana para saber se na terceira também) tanto em "Argo" quanto aqui ele mostra todo o carisma que pode colocar num personagem secundário e arrasar, aqui ele tem até música própria que entra em alto volume toda vez que aparece, fazendo do seu personagem Harling Mays uma lenda totalmente perfeita.

O visual do longa é bem trabalhado, e mesmo estando sempre em locais fechados a direção de arte se preocupou bastante em retratar tudo com minúcias, claro que em vários momentos mostrou exageradamente marcas que devem ter patrocinado o longa, mas diferente do que costuma acontecer quando isso é feito, aqui não incomodou tanto. O que a direção de arte nos retratou de forma bem correta é a intimidade do personagem, nos levando para casas caindo assim como ele e seu avião, e isso pode ser considerado uma boa metáfora para o longa. A fotografia do longa está bacana, mas poderia ter trabalhado um pouco mais em alguns momentos que forçassem mais o lado dramático do personagem, pois vemos iluminação demais em certas cenas que se ficassem mais na penumbra instigaria um pouco mais.

Um ponto bem interessante do longa está nas canções escolhidas para ilustrar cada momento da trama e até mesmo alguns personagens como disse acima, tendo uma variedade gostosa para dar ritmo ao filme e ainda assim dar identidade dramática. Além disso, os momentos de tensão ficaram bem intrigantes com a trilha composta por Alan Silvestrini que é outro que já mostrou ser muito bom em "Os Vingadores".

Enfim, um filmaço bem dirigido e atuado, que na minha opinião poderia ter roubado com certeza a vaga de algum outro indicado à melhor filme no Oscar. Vale muito a pena assistir ao longa e recomendo para todos que gostem de uma boa tensão tanto no chão quanto nas alturas. Espero não ter dado muitos spoilers no que escrevi e fico por aqui, mas logo mais teremos muitos filmes nesse final de semana prolongado. Abraços e até mais tarde pessoal.


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